 |
Autor desconhecido |
Viajar é uma grande paixão, tanto quanto escrever. São
complementos: eu viajo, tenho mil experiências incríveis e preciso escrever
sobre elas! Nem que a viagem seja apenas fruto da imaginação.
Um dos destinos que mudou a minha vida foi o sertão baiano, precisamente
no sudoeste da Bahia, em Tanhaçu. A cidade é minúscula, a seca é devastadora e
é preciso andar alguns kilômetros da fazenda até o orelhão mais próximo. O
divertido mesmo é quando o caminho é feito de carroça, mas essa é uma das
experiências que eu conto outra hora, porque este texto é pra falar de como é “dibuiar
andú”.
Segundo a revista da Fapese, o feijão guandu, conhecido principalmente
por feijão andú, é facilmente encontrado no interior do Brasil e tem diversas
utilidades: alimentação humana melhora e recupera os solos, etc.
Era o fim de tarde de um dia qualquer enquanto eu estava na
fazenda e o Tio Zé, um senhor de pouco mais de um metro e sessenta de altura,
mas de humildade com tamanho inestimável, me chamou para “dibuiar” andu.
Nasci e vivi a minha vida toda em Campinas, uma das cidades
mais importantes e ricas do estado de São Paulo e do país. Já viajei para
muitos lugares no interior do Brasil, mas a Bahia era uma novidade e me
surpreendia a cada dia.
É preciso paciência, cuidado e carinho para “dibuiar” o andu.
Se a ansiedade for grande, você não conseguirá abri-lo corretamente, alguns
grãos não sairão e o trabalho será maior. Não se preocupe, depois da primeira
bacia você fica expert! Só precisa se concentrar, respirar fundo, não se
preocupar com o “sebinho” que gruda nas mãos e destrói os esmaltes impecáveis. Lembro-me
de ter reparado o quão detalhista é a natureza, pois cria a “casca” que protege
os grãos e deixá-os bem separados e protegidos.
Ficamos a família toda reunidos por horas “dibuiando” alguns
sacos de andu. Achei aquilo incrível e mais uma vez eu pude ter certeza de que
as coisas simples são absolutamente belas e nos ensinam muito mais sobre a
vida, do que a academia. Porque enquanto “dibuiei” andú, concentrada na
atividade, percebi que é uma grande oportunidade de autoconhecimento: os
detalhes do andú nos faz olharmos para os detalhes da nossa vida. Não apenas
porque precisamos alimentar o corpo e a alma, às vezes melhorar e recuperar o
solo, mas porque são raros os momentos em que nos concentramos de verdade para
realizarmos algo, tendo a única certeza de que só precisamos de paciência e
carinho para que a vida dê certo – ou para “dibuiar” a bacia toda!
Fonte de pesquisa: http://www.fapese.org.br/revista_fapese/v3n2/artigo8.pdf