24 de janeiro de 2013

“Dibuindo” andú


Autor desconhecido



Viajar é uma grande paixão, tanto quanto escrever. São complementos: eu viajo, tenho mil experiências incríveis e preciso escrever sobre elas! Nem que a viagem seja apenas fruto da imaginação.

Um dos destinos que mudou a minha vida foi o sertão baiano, precisamente no sudoeste da Bahia, em Tanhaçu. A cidade é minúscula, a seca é devastadora e é preciso andar alguns kilômetros da fazenda até o orelhão mais próximo. O divertido mesmo é quando o caminho é feito de carroça, mas essa é uma das experiências que eu conto outra hora, porque este texto é pra falar de como é “dibuiar andú”.

Segundo a revista da Fapese, o feijão guandu, conhecido principalmente por feijão andú, é facilmente encontrado no interior do Brasil e tem diversas utilidades: alimentação humana melhora e recupera os solos, etc.

Era o fim de tarde de um dia qualquer enquanto eu estava na fazenda e o Tio Zé, um senhor de pouco mais de um metro e sessenta de altura, mas de humildade com tamanho inestimável, me chamou para “dibuiar” andu. 

Nasci e vivi a minha vida toda em Campinas, uma das cidades mais importantes e ricas do estado de São Paulo e do país. Já viajei para muitos lugares no interior do Brasil, mas a Bahia era uma novidade e me surpreendia a cada dia.

É preciso paciência, cuidado e carinho para “dibuiar” o andu. Se a ansiedade for grande, você não conseguirá abri-lo corretamente, alguns grãos não sairão e o trabalho será maior. Não se preocupe, depois da primeira bacia você fica expert! Só precisa se concentrar, respirar fundo, não se preocupar com o “sebinho” que gruda nas mãos e destrói os esmaltes impecáveis. Lembro-me de ter reparado o quão detalhista é a natureza, pois cria a “casca” que protege os grãos e deixá-os bem separados e protegidos.

Ficamos a família toda reunidos por horas “dibuiando” alguns sacos de andu. Achei aquilo incrível e mais uma vez eu pude ter certeza de que as coisas simples são absolutamente belas e nos ensinam muito mais sobre a vida, do que a academia. Porque enquanto “dibuiei” andú, concentrada na atividade, percebi que é uma grande oportunidade de autoconhecimento: os detalhes do andú nos faz olharmos para os detalhes da nossa vida. Não apenas porque precisamos alimentar o corpo e a alma, às vezes melhorar e recuperar o solo, mas porque são raros os momentos em que nos concentramos de verdade para realizarmos algo, tendo a única certeza de que só precisamos de paciência e carinho para que a vida dê certo – ou para “dibuiar” a bacia toda!



Fonte de pesquisa: http://www.fapese.org.br/revista_fapese/v3n2/artigo8.pdf


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