Há dois anos encontramos a família do meu avô, que ele não
via há quase setenta. Lá no sudoeste da Bahia uma parte da minha família foi
descoberta e consequentemente, da minha história também. Há seis meses viajei
até lá para conhecer tudo isso e foi uma experiência emocionante, que merece
ser lembrada nessa retrospectiva porque foi lá que eu comecei a mudar toda a
minha vida...
Já viajei bastante, mas ainda nunca tinha ido para a Bahia.
Imaginei algumas coisas, mas a realidade foi muito diferente. Descobri setenta anos da história da minha família. Eu nunca
tinha visto todas aquelas pessoas antes, mas desde que cheguei na Fazenda
Capim-Açu me senti em casa.
Vivi momentos lá, que ao voltar para São Paulo me fizeram
repensar toda a minha vida. Fui para o centro da cidade de carroça, toda
pomposa e esbanjando charme, claro. Fui à primeira Festa de São João da minha
vida e é muito legal. Embora eu não tenha prática para dançar forró, a felicidade
das pessoas contagia e logo eu estava arrastando dois pra lá, dois pra cá e
ainda rodopiando. Vem um primo, sai, vem outro e aí de mim se digo que não sei
dançar!
Quando conto que fomos em seis pessoas para a churrascaria, pedimos
picanha, salada, arroz, aipim, Coca-Cola e a conta deu 40 reais, ninguééém acredita, mas
deu. Na verdade, nem eu acreditei, pensei que era por pessoa, mas foi o preço para a
turma toda.
E quando me deparei sozinha com um sapo num cômoda da casa? Só eu e
ele, ali naquele cômodo, ele me olhando e eu gritando feito louca. Feito uma
pessoa muito louca!
Tomei banho de canequinha (dá pra acreditar???), descasquei
feijão, aliás, eu nem sabia que existiam outros tipos de feijão além do Preto e
do Carioquinha. Tio Zé me deu uma aula sobre tipos de feijão! E preciso
dizer que tem um feijão que eles fazem lá que é o melhor do mundo. Por incrível
que pareça, feijão não é tudo igual! Comi Palma (que parece cacto), refogada é uma delicia, mas depois descobri que na verdade eles plantam isso para poder dar de comida aos bois, pensem na minha cara de "hããã?" na hora. Hahahha
Entre muitas outras coisas que definitivamente
só acontecem na Bahia!!!
Para algumas pessoas tudo isso pode parecer normal ou bobo
demais. Mas foi vivendo essas descobertas e percebendo o quanto as pessoas são
felizes com tudo isso, com toda a simplicidade que vivem, tendo que plantar
para comer e vender (na cidade do meu avô a maioria das pessoas sobrevivem
assim e ganham dinheiro vendendo na feira o que planta).
Todos são estudiosos, quase todos já formados. São pessoas
boas e de caráter indescutível e são acima de tudo, muito felizes. É possível
perceber tamanha felicidade até nos olhinhos brilhantes. Não precisam de marcas
famosas, ir ao shopping toda semana e se entregar ao mundo capitalista para se sentirem
felizes. E foi em tudo isso que eu pensei quando decidi mudar toda a minha vida
pessoal e a acadêmica em 2011.
Será que eu estava mesmo fazendo coisas que me faziam feliz
ou estava fazendo o que me desse maior conforto financeiro no futuro? É óbvio que o
financeiro é extremamente importante, mas de nada adiantaria um dia eu ser uma
magistrada ganhando algumas dezenas de mil reais por mês e não me sentir a
pessoa mais feliz do mundo. Também por isso, eu decidi juntar o útil ao agradável.
Vou ganhar dinheiro, mas serei também uma pessoa feliz e realiza pessoal e
profissionalmente.
Uma das coisas mais importantes que aprendi nessa viagem:
Sou eu quem determino a vida que quero ter, independente do
que eu tenha nela. Não é o que eu tenho quem deve determinar a minha vida.
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