A vida é uma sucessão de escolhas, das mais banais às
mais importantes: acordar, à hora de almoçar, fazer aquela ligação importante,
atender aquele telefonema cujo número está gravado como “só atender quando
estiver pronta”, persistir, desistir. Sejam quais forem as minhas escolhas, a
única certeza é que as conseqüências virão e são de responsabilidade única e
exclusivamente minhas.
Eu escolhi encontrá-lo de novo. Fiz as malas atendendo ao
pedido de alguém que eu amo muito e que nunca me imaginei ter que viver sem de
novo. Eu assumi as conseqüências de ouvir a sua família nos dizendo o que deveríamos
ou não fazer. Aliás, porque é que eles não cuidam da própria vida?
No momento em que te avisei que estava embarcando e que
sim, nós nos encontraríamos no local e horário marcados, eu assumi todas as conseqüências
que estavam por vir. Você sabe o quanto foi difícil pra mim aquela noite, sabe por
que pra você também foi. Sabe que a última coisa que precisávamos no mundo, éramos
ser julgados por quem não entende a profundidade de tudo o que já vivemos
juntos e também separados.
Na manhã que eu decidi ir embora da sua casa, estava
carregando comigo não apenas uma mala enorme, mas uma tristeza que eu nunca
senti antes, uma sucessão de erros que nós dois cometemos e deixamos que quem
não tem importância nenhuma pra nós, nos julgássemos.
Eu sei que você estará à espera de um contato, mas foi
bom te ouvir dizendo isso. Talvez aquele abraço não seja mesmo o último das nossas
vidas.
Você me olhava com olhos de “não estou acreditando nisso”,
me encarava como se quisesse me segurar ali pra sempre. Mas você não segurou.
Eu queria que você tivesse segurado. Eu queria ficar, mas estava magoada demais
pra controlar tanta tristeza. Só você poderia ter feito isso pra mim, por nós.
Eu não conseguia olhar nos seus olhos porque vejo neles o mundo que eu quero
viver pra sempre.
Eu sabia que tudo isso poderia acontecer de novo. Eu
escrevi sobre isso antes: “Pode ser que eu me ferre, que sobre
dor e eu não saiba lidar com as consequências. Mas eu me arrependeria pelo o
resto da vida se não arriscasse.” Hoje eu carrego uma tristeza enorme
por ver a que ponto chegamos, mas mesmo assim
eu nunca me perdoaria se não tentasse.
Sabe essa história que você tem dó de terminar? Ela
é nossa! Essa menina que ora vai se matar, ora vai se tratar, ela é só mais um
obstáculo no nosso caminho, assim como foram a grávida, a piriguete, e todas
elas. Ela não vai morrer, só se morre por amor. E mesmo assim morre sem saber
que está morrendo, com a dor de não saber o que seremos amanhã um para o outro,
se nos veremos de novo, se ficaremos juntos. A incerteza de não ter você comigo
pra sempre, isso sim é a morte.
O meu endereço ainda é o mesmo, o telefone, o
email, e o nosso combinado continua valendo.
Lembra que eu disse que não acaba nunca, mas que se
transforma?
Não deixa tudo o que vivemos e o que somos um para o
outro, se transformar em um monte de histórias, brincadeiras, lágrimas, espera,
cócegas, filmes, amor, conchinha, massagens, viagens, pão com ovo, beijo na
testa, bilhetes escondidos no meio do caderno ou do dinheiro, em ligações de “pega
o primeiro ônibus, nos encontramos no final de semana”, não deixa tudo isso se
transformar em esquecimento, em uma história que não valeu a pena porque causou
mais dor do que sorrisos.
Não deixa acabar o que não tem fim.
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