31 de março de 2012

Sem você aqui, primavera sem flor.

Ele me olha com olhos de “obrigada por existir”, às vezes eu nem sei como retribuir. Outro dia ele contou que me observou muito até deixar com que os olhares se cruzassem. Sei lá porque este menino se apaixonou por mim, mas sei exatamente porque ele é a pessoa em quem eu penso antes de dormir.

Tornamos-nos amigos. Depois melhores amigos. Eu já o sentia como uma extensão de mim e para o amor acontecer de fato, bastou com que num silêncio profundo entre uma de nossas conversas – aliás, conversamos tanto que até o silêncio é raridade, ele disse: “Sim, é isso mesmo, você já sabe de tudo.” Confesso que não entendi absolutamente nada. Uma frase sem contexto interrompendo o silêncio quase mortal. Só consegui responder, “é, eu sei mesmo de tudo”, mesmo sem ter idéia do que significava o “tudo” para ele. O silêncio se tornou ainda mais torturador, até que ele disse “então você já sabe que eu amo você, que a vida é um tédio sem a sua companhia e que eu quero você comigo hoje, amanhã, semana que vem, no ano que vem, até o fim da minha vida.” Olhei atônica, emocionada, feliz e chorosa, mas tive a certeza de que eu o correspondia.
Ele me entende sem que eu precise falar uma palavra, meus olhos dizem muito mais e ele lê atenciosamente. Sei exatamente o que ele está pensando só pelo modo como o seu rosto se expressa. Adoro o modo como nos conhecemos tão bem. O modo como o beijo tem sintonia. Como os corpos se encaixam. O seu abraço, que muitas vezes parece que irá me esmagar. Adoro o modo como ele me apóia, me incentiva e se orgulha de mim na faculdade. Admiro a sua coragem, a dedicação e a sua inteligência.

 Já decidimos que quando acabarmos a faculdade viajaremos por um mês conhecendo os pontos mais legais da Europa. Ele quer também esquiar em Bariloche, mas eu detesto frio, estou tentando negociar! Outro dia surgiu a palavra “casamento”, mas ainda temos muito que estudar, trabalhar e viajar. Mas decidimos que a nossa filha se chamará Luiza. Com Z mesmo. E continuaremos morando em Campinas.
Desde que começamos a faculdade reduzimos o nosso tempo juntos, mas conseguimos definir que as sextas a noite são sagradamente nossas e que os sábados, pelo menos a noite, também.

Quando saio da aula de sociologia, a última de sexta-feira, ele sempre está me esperando com um sorriso que parece ficar cada vez lindo. Ontem fiquei observando-o enquanto ele dirigia e conversava comigo. Contou-me todo orgulhoso que o seu chefe lhe nomeou gerente de um projeto importante lá na empresa, mas não me pergunte o quê porque nunca consigo assimilar muito bem essas coisas da Tecnologia da Informação.

Eu o olhei fixamente enquanto ele dirigia e quando ele percebeu, ficou sem graça e perguntou o que eu estava pensando. E eu estava pensando em tantas coisas! Em como a vida foi louca, mudei tudo em um ano, agora estou com alguém que aprendi a admirar, a respeitar, a amar e sei que são sentimentos recíprocos e que estar ali com ele, faz valer a penas toda a semana paulera que eu tive. Ele respondeu: “Pequena, não solta a minha mão.” Essa frase tem um significado importante pra nós. Nem o “eu te amo” talvez seja tão profundo quanto essa nossa frase especial. Aliás, já disse que adoro quando ele me chama de pequena?

Chegamos e ele subiu comigo. Acho interessante o quanto e como ele traz alegria para a minha casa. Jantamos rapidinho juntos. Minha vontade era de agarrá-lo e não soltar nunca mais. Agora reparei que o cheiro dele ficou em mim. Ele se tornou mais do que namorado, mas realmente o meu melhor amigo e uma extensão de mim. Não nos vemos tanto quanto gostaríamos, mas eu sei que ele existe, que eu o amo, que ele me ama. Que a sexta-feira chegará e ele estará lá me esperando de novo. E que daqui a pouco já será sábado à noite e ele volta pra perto de mim.
Às vezes penso em como seria triste perdê-lo, embora eu não o possua. Somos absolutamente livres para viver e pensar, ter personalidade, sonhos e desejos próprios, eu adoro o jeito como organizamos o nosso namoro e acho que é por isso que dá tão certo: continuamos a sermos nós mesmos, as pessoas por quem nos apaixonamos.

E eu só quero do fundo do meu coração, que sempre exista amor para recomeçar.
Sorrio em olhos e lábios, a felicidade por amá-lo é enorme. Não solta a minha mão!

(A música eu já postei aqui, mas é a nossa música!)

29 de março de 2012

Bom dia!

Um lindo dia se apresenta pela janela do terceiro andar. Os raios de sol, ainda tímidos, iluminam toda a minha humilde residência e eu passei mais uma noite estudando.

Outro dia uma colega de sala, já quase enlouquecendo com tantos trabalhos, pepês, inters e sei lá o quê, diz: "Mas professora, estudo o tempo todo e ainda não é tempo suficiente para eu realizar tudo! Que horas vou fazer esses trabalhos para  a próxima aula?"

A professora, talvez um pouco grossa na resposta, mas ao meu ver sincera e objetiva responde:
"Fulana, você dorme?"

"Sim, prof."

"Pois então durma menos!"

24 de março de 2012

Eu, vovó e os anjos.

Um silencio profundo nessa noite. São três e quarenta e cinco da manhã. Lá fora o vento bate na janela, anunciando uma forte chuva. Aqui dentro está claro. Alguns funcionários vestidos de branco, conhecidos como enfermeiros, mas denominados por mim como “anjos”, cuidam de alguns enfermos. Estou numa cadeira ao lado da maca em que minha avó dorme inquieta. A observo como se nessa enfermaria estivéssemos sós.

Tenho visto como o seu rosto carrega marcas do tempo. As mãos cheias de calos revelam anos de trabalho árduo. Os cabelos cinza pérola, agora já bem ralos, demonstram uma linda senhora vaidosa.

Há um ano os médicos a diagnosticaram com um câncer raríssimo no esôfago. Senti imenso medo pela grande possibilidade de perdê-la. A quimio e a radioterapia a deixaram fraquinha. Um tratamento sem sucesso. O maldito se espalhou para órgãos. Estou a quinze dias seguidos com ela aqui no hospital. Não me canso de olhar a sua beleza. Quantas mil experiências o seu corpo, agora fraco e cansado, denunciam.

Os anjos a tratam com carinho e respeito. Quando está acordada, conversam com ela, estão sempre oferecendo água ou alguma comida. A velhinha é carismática e já conquistou todos aqui na enfermaria. Os anjos a deixam sempre penteadinha e com o inseparável batom. Outro dia um dos anjos, a enfermeira Lucia, até lhe trouxe um presente, um lindo buquê de flores. Disse que é para alegrar a vida, assim como minha avó alegra o hospital quando está animada com a possibilidade de voltar para casa.

Agora a pouco, após relembrar momentos da minha infância, quando morávamos juntas, quando ela cozinhava para a família e a casa era cheia de primos, com lágrimas nos olhos me direcionei ao médico, o DR. Anjo e o questionei: “Até quando, Doutor?”.

É o ápice do desespero. O câncer invadiu o corpo da minha avó, roubando-lhe passeios, momentos e a vida. A deixou fraca e está matando-a os poucos. Ela está morrendo há um ano. Há um ano não vemos mais brilho em seus olhos e nem conseguimos conversar trinta minutos sem chorarmos. Ela sabe que é o fim. Nós sabemos. Eu não quero que ela sofra ainda mais. Será uma dor insuportável viver sem sua presença marcante, mas não quero que ela também sofra com isso.

O DR. Anjo, que já se tornou um amigo, visivelmente abatido e desconcertado com a minha pergunta, só conseguiu responder: “Questão de horas, Clarinha. Questão de horas.”

Nem sei como reagir a uma resposta dessa. Não quero que minha avó sofra ainda mais. Não quero ficar sem ela. Minha vontade é que Deus, por algum descuido lhe fizesse eterna. Chorei feito criança. Lembrei as férias, as viagens. O quanto ela ficou feliz quando me formei do Ensino Médio. No apoio e nos conselhos maravilhosos que me deu quando sofri por amor. O quanto ficou feliz quando entrei para a faculdade de Direito. O quanto eu tive medo de decepcioná-la quando decidi abandonar o Direito e iniciar o Jornalismo. Ela me acolheu com um sorriso nos olhos e nos lábios, abraçou-me carinhosamente e disse que o importante era ser feliz. Vó, e como fomos felizes, não é?

Depois fiz questão de recordar sua vida até eu nascer. Vinda de família pobre, casou-se ainda sem estudo. Perdeu uma filha. E como deve ser insuportável essa perda. Contrariou estatística e terminou os estudos quando já tinha quatro filhos pequenos. Com mais de quarenta iniciou a faculdade e tornou-se uma professora querida por todos seus alunos. Aposentou-se. Dedicou-se aos filhos, aos netos e há pouco tempo, para os bisnetos. Nem sabemos como retribuir tanta dedicação.

Embora já sofrendo muito e merecendo um descanso dessa vida, eu olhei para o Dr. Anjo e só consegui dizer: “Doutor, faça tudo o que for preciso para mantê-la viva!”.

Sei que a qualquer momento, enquanto eu a olho dormir inquieta, ela pode ter uma parada cardíaca ou qualquer outro mal súbito. Já posso imaginar a equipe da enfermagem a levando às pressas para a sala de emergência. Já sei que será preciso entubá-la, será feita massagem cardíaca e vão usar o desfribrilador para tentar reanimá-la. Em vão. Tudo será em vão. Amanhã à tarde estaremos observando o seu corpo frio e sem vida. Depois voltarei para minha casa e terei que aprender a viver com a ausência, com a saudade, com o vazio eterno que causará.

Voltar para a casa. Para o trabalho. Para a vida. E eu nem sei como fazer isso. Não sei de onde obter forçar para continuar sem ela.

Quando tudo parecer perdido na minha vida, quem vai me ouvir por horas e no final dizer a mesma frase carregada de sabedoria – que eu sempre ouço e sempre preciso ouvir  de novo?
Calma, Clarinha! Isso também passa.”


(Lieda Gomes)
- Escrito em 14 de Março de 2012.
- Vale lembrar que é uma história de ficção. Ela é inspirada em várias histórias que já vivi. Vovó está bem e Clarinha, talvez seja o meu subconsciente, mas por ora é apenas uma criação minha.
De volta, sempre.
Estou com tantas saudades desse blog, mas tão sem tempo para atualizá-lo. Para não enferrujar, tenho escrito algumas coisas e guardado pra quando sobrar tempo para postar. Espero que gostem!



Homenagem ao dia internacional da mulher - 08 de Março de 2012.


O sexto sentido apurado. Os saltos e o regaço que eles deixam os nossos pés. A menstruação e a TPM insuportável que nos causa. Horas no salão de beleza. Horas para escolher UM sapato. Estudar, trabalhar e ainda ser filha, neta, irmã, prima, quebra-galho. Ter paciência para esperar ele ligar no dia seguinte. Planejar festa, a casa, a lua-de-mel e toda uma vida juntos. Casar e ter uma melancia dentro de nós. A espera para o momento certo de ver “aquele rostinho”. Dar vida e criar um ser. Agora ser estudante, trabalhar, ser esposa, mãe, filha, neta, irmã, tia, prima, quebra-galho, conselheira, passadeira, telefonista, cozinheira, faxineira, motorista, monitora na lição de casa, amiga e adivinha de pensamentos (esposos e filhos esperam isso da gente!). E ainda suportar gente mal educada, chefe mal humorado, trânsito parado, shopping lotado e banheiro sujo! Banheiro sujo! Além de tudo, ainda ter que se equilibrar na hora de fazer xixi. É... Talvez fosse menos difícil se tivéssemos nascido homem, mas eu ainda quero nascer mulher nas próximas existências. O carinho do esposo, o sorriso do filho, o apoio incondicional da família e o reconhecimento do chefe superam tudo! E somos felizes!
(Lieda Gomes)

9 de março de 2012

Marla de Queiroz

Marla de Queiroz é uma blogueira que tem uns textos muito lindos, de um estilo que eu adoro. O blog é o Doida de Marluquices. Muito legal! Espero que vocês também gostem.

Me apaixonei pelo texto "Quem sabe isto quer dizer amor...".



"Quem sabe isto quer dizer amor..."


Acho que posso dizer que é amor, sim. Mesmo que a gente tenha se perdido para que eu pudesse encontrar a mim mesma. Mesmo que a gente tenha se perdido para que você pudesse buscar a si mesmo. É amor porque eu te guardo na lembrança bonita do meu crescimento, da descoberta do que era a co-dependência ou da fusão que subtrai. É amor, porque cantamos juntos, dançamos juntos, choramos juntos, fizemos amor intensamente, trocamos profundamente as angústias da alma, torcemos um pelo outro, nos ajudamos, viajamos juntos, gargalhamos desarvoradamente, dormimos juntos no melhor abraço um do outro, descobrimos novas músicas, sinônimos, livros, enlouquecemos lindamente, brigamos muito, fizemos as pazes várias vezes e fomos embora um do outro quando nada mais era poesia. Não foi triste, mas doeu profundamente.Uma dor resignada porque eu podia ver com clareza que já não nos acrescentávamos nada. E aprendi a trabalhar o desapego e o perdão. E hoje, quando vejo você sorrir, eu sinto que estamos bem e que fizemos a coisa certa. E o amor só pode ser isto: querer que o Outro encontre a felicidade a qualquer custo, mesmo que isso exclua você da plenitude dele. Mesmo que isto exclua o Outro da sua plenitude.

(Marla de Queiroz)




. Lindo, né?

4 de março de 2012

Queria que fossem eternos.

Estava observando meus avós. Me dei conta de que apesar de ativos, bem sociáveis e lúcidos, já estão bem velhinhos. E percebi que embora eu estude sobre a morte, não estou preparada para perdê-los. Não tenho nenhuma condição psicológica pra isso. Talvez eu devesse reservar algumas horas diárias para estar junto deles. A gente se estabana toda na vida adulta e esquece de viver as coisas simples e realmente importantes. Sei lá se isso é possível, mas de repente deu uma saudade de quem ainda não se foi. Uma vontade indescrítivel de fazê-los eternos. Um desespero pela certeza imprevisível da perda.

1 de março de 2012