Dia 08 de Abril é o dia mundial de luta contra o câncer. E a
foto abaixo é representa que todas as mulheres podem ser princesas.
Conheço algumas pessoas que já receberam esse diagnóstico
desesperador. Alguns foram benignos. Outros malignos, mas superaram. Mas meu
maior contato com o câncer foi através de uma amiga que na época tinha onze
anos.
Eu claro, sempre fui bem mais velha. Quando ela faleceu em
2010 aos onze, eu tinha recém dezoito. Tivemos uma amizade bastante intensa,
embora nos víssemos pouco. Vitória tinha um jeito encantador de ser. Toda meiga,
olhos sempre brilhantes e sorriso iluminador. Ainda me lembro que sempre que
nos encontrávamos, ela tocava meu rosto com muito carinho e me dizia o quanto
me achava bonita e legal. E eu me perdia em tanto brilho nos olhos.
Quando meu avô faleceu, enquanto eu chorava quietinha num
canto, ela que nessa época devia ter uns nove anos de idade, se aproximou e
sorriu. Depois me disse que tudo ia ficar bem. Senti muita confiança em suas
palavras. Quanta sabedoria em um ser tão novo.
Me lembro como se fosse hoje. Era domingo e o telefone tocou
com alguém do outro lado dizendo que a Vitória estava com câncer. Na hora foi
um baque pra mim. Estavam todos preocupados e orando pela sua recuperação,
então eu não sabia se podia demonstrar o meu desespero com uma notícia tão
importante. Mas como ela mesma já havia dito, ia ficar tudo bem. Vitória sempre
foi uma menina de sorriso fácil, então imaginei que ela estivesse levando na
boa o início do tratamento.
Depois de algum tempo eu soube que ela levou mesmo na boa.
Continuou de sorriso fácil e tanta alegria surpreendia até os médicos. Até
soube que uma das médicas, assustada com seu entusiasmo, lhe perguntou se ela
não tinha medo de morrer. Segundo sua tia, ela respondeu que não, apenas tinha
curiosidade para saber o que acontecia depois da morte.
Mas ela não se entregou. Muito pelo contrário, sua vontade
de viver irradiava no brilho dos olhos. Era um ser humano fantástico demais
para falecer de uma doença tão cruel.
Outra coisa que me chamou a atenção é que quando seus pais
pediam para os amigos fazer oração, sempre diziam “Orem pela felicidade dela,
independente de qual seja o resultado.” Menos de uma semana após o diagnóstico,
Vitória faleceu.
Embora eu soubesse que foi melhor assim, pois o tratamento
estava deixando-a fraca e com certeza sua imunidade abaixaria ainda mais e com
isso ela sofreria, senti muito a sua morte. Talvez eu nunca consiga explicar o
que eu senti. Nessa época eu namorava o Tiago e talvez só ele saiba o quanto eu
sofri com essa perda. Ficava inconformada por existir essa doença e por fazer
vítima uma pessoa tão iluminada. Tiago me dizia para guardar minha amiguinha no
coração, e que eu não precisaria nunca me esquecer dela, mas que com certeza
ela não gostaria de me ver sofrimento. Mas mesmo assim foi difícil compreender.
Lembro-me do seu velório e como eu nunca havia perdido uma
amiga antes, me senti muito sem chão. Ainda mais sendo ela uma criança tão
especial na minha vida. Me permiti chorar na frente de todo mundo – coisa que é
rara. Permiti a tristeza e o luto intenso.
Os dias que se sucederam foram torturantes. Eu estava muito
preocupada com sua família e se a Vi havia entendido a sua passagem, se não
estava sofrendo. Não consiguia parar de pensar na Vitória nem por um segundo.
Um dia eu fiz oração pedindo sabedoria para lidar com essa
perda e com outras possíveis que viriam. Chorei muito e pedi também alguma
forma de saber que estava tudo bem, que eu não precisava me preocupar tanto
daquele jeito.
Tive um sonho tão rápido, mas tão lindo e tranqüilizador. Vi
a Vitória num local todo branco, vestida de branco e sorrindo muito, como se
estivesse muito feliz e com isso me dissesse “Li, eu disse que ficaria tudo bem”.
Hoje me lembro dela algumas vezes, mas agora é com felicidade e tranquilidade. Vê-la
em meu sonho foi como tirar a dor do meu coração com as mãos e colocar substituir
por muita tranqüilidade.
E embora eu tenha certeza de que nunca mais encontrarei
alguém tão encantadora como a Vitória, me sinto muito feliz por ter tido a
chance de tê-la conhecido. Sei que sua missão na minha vida, foi me mostrar que
a vida pode ser muito boa se eu não tiver medo dela. Entre muitas outras coisas
que me fazem lembrar o quão inigualável ela era.
Minha pequena amiga, embora tivesse um belo sorriso no rosto
e muita vontade de viver, não conseguiu vencer essa guerra. Mas ainda assim foi
Vitória, do começo ao fim. Seja sendo uma criança que surpreendia a todos com
seu carinho e sabedoria, seja sendo a vitoriosa que mesmo doente e tendo plena consciência
da gravidade disso, dera suporte e tranqüilidade aos amigos.
Mesmo que não tenha dado tempo para que seus cabelos caíssem
com o tratamento, lembrei dela com essa foto da luta pelo câncer por ter sido
uma pessoa linda por dentro e por fora. Alguém que teve grande importância na
minha vida e que eu nunca mais conseguirei esquecer.
Se eu pudesse dizer alguma coisa a ela, seria:
Obrigada, obrigada, obrigada! Ter você por perto foi a maior
boa sorte que todos nós já tivemos. Eternamente obrigada pela sua existência.
Vitória é um anjo e volto a dizer que anjos não tem auréolas. Anjos são pessoas especiais que passam pela nossa vida, muda ela pra sempre e nunca serão esquecidas.
Espero que ela renasça como ser humano e faça muitas outras
pessoas felizes.
Assim como nos fez felizes. Assim como sempre foi feliz.
"Há vitórias que exaltam, outras que corrompem;
derrotas que matam, outras que despertam."
(Antoine de Saint-Exupéry)
Espero que um dia, e que não demora, a medicina continue avançando e ninguém mais perca a luta contra o câncer.
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